quarta-feira, 24 de maio de 2017

(Des)equilíbrio


(Autenticidade é uma prática diária de abandonar o que a gente pensa que deva ser e abraçar o que somos)


Lancei a pergunta no ar: por que não consigo um equilíbrio emocional? Por que vivo altos e baixos tão frequentes que não flui uma paz mais constante? Ouvi do mesmo "ar" que, neste caso, podemos chamar de coração, mentores ou o vento mesmo: porque ainda busca a perfeição. 

Hoje fiquei chateada, falei com uma pessoa de forma não amorosa e me senti mal comigo mesma por ter agido dessa maneira. Me vigio, com cobrança rígida, como quem não se permite perdoar. 


Por que, durante o dia, fiz essa bobagem? Poxa, tava tão bem, tão em paz e, depois de me irritar no trabalho, não poderia ter agido de forma mais amorosa? Poderia. Mas não foi assim. Aprendi mais uma lição. E ponto, segue com cabeça erguida e cuca fresca. Mas não foi assim. O perfeccionismo me cobrou. A mente me cobrou que tivesse agido de outra forma. 

Acontece que não sou perfeita, ninguém é. Acreditar em um perfeccionismo é negar a mim mesma, é não ser autêntica. É preocupar-se com o que o outro pensa, com o padrão de perfeição criado pela sociedade, pela minha mente. Não que esses pensamentos não sejam observados - é bom que eles sejam percebidos e que passem com consciência, mas com mais amor próprio e menos rigidez. 

Quando lancei a pergunta, me veio o pensamento: "queria estar bem emocionalmente, não aguento mais estar sempre mal, quando melhoro, me vem dores aqui, dores ali, essa rinite que não para, essa dor na lombar que não me deixa seguir com tranquilidade..." Paciência? Foda, né? Mas o que se há de fazer: reclamar ou aceitar isso e seguir na melhor toada possível? Meu livre arbítrio resiste à segunda opção, mas tendo a ela. 

E sinto o vento no rosto, enxugo o nariz da rinite, bebo um chá, sinto a dor nas costas, e assim sigo. Porque optei por seguir, com ajuda dos bons ventos...

segunda-feira, 10 de outubro de 2016

Caderninho da gratidão

Há tempos não escrevo nesse blog. Ao longo de quase um ano, fui escrevendo coisas aleatórias em pedaços de papéis, guardanapos, folhas rasgadas, caderninhos... é a escrita-terapia espalhada por aí, na tentativa de compreender o que passava, o que passa. 

Um dos caderninhos - esse sim mais organizado e diário - foi o da gratidão. Aprendi que não precisava agradecer por "grandes" acontecimentos. Algo como dar a volta ao mundo... mas acontecimentos e sensações microscópias, que olhadas com gratidão, engrandecem o coração e te faz sentir melhor aos poucos. 

Agradecer a companhia de uma amiga numa tarde de pôr-do-sol, em silêncio. Agradecer a minha saúde e a de meus pais. Gratidão por poder tomar uma água de côco, no calor de 40 graus. Por me concentrar dez segundos em um mini besouro - de corpo brilhante, pernas vemelhas e cabeça azul - tentando escalar uma grama e se estabanar com as perninhas pra cima, e logo se recompor. E sorrir pela cena...

domingo, 29 de novembro de 2015

Cartas a um jovem poeta


 Gosto do acaso. Aquele sobressalto da rotina que dá um frio na barriga e te faz sorrir numa segunda às 11h13 da manhã. Ultimamente tenho deixado ao acaso a leitura do livro Cartas a um jovem poeta. Fecho os olhos, abro o livro e sempre surgem as mesmas linhas da carta que Rilke enviou ao jovem Kappus. 

Fala da importância da solidão, essa companheira que aprendemos a não dar importância, esquecê-la e distrai-la. E a frase que sempre me dá um sobressalto diz que "no fundo, só essa coragem nos é exigida: a de sermos corajosos em face do estranho, do maravilhoso e do inexplicável que se nos pode defrontar". Todo restante dessa carta leio como se Rilke a houvesse escrito pra mim. Muitas vezes, quando me vem um sentimento/pensamento triste, abro o livro e eis que lá estão essas e outras palavras. Passo a olhar a solidão com um sorriso, uma companheira em momentos depressivos - e as cores do mundo voltam a ter um pouco mais de vida. 


quinta-feira, 13 de agosto de 2015

Passo a passo


(Chico Science)
Essa frase me acompanhou na fase de depressão profunda - e me ajudou. Não dá vontade de levantar, seu corpo tende para a inércia e, quando a mente te controla e (con)vence, instala-se a imobilidade. Com o tempo, aprendi a melhor lidar com a "voz" da mente falando "não consigo levantar", "não tenho ânimo pra nada". Talvez a auto-compaixão ajude nesse momento. Longe de ser síndrome de vitimização, essa auto-compaixão está próxima da aceitação de que nesse momento o ritmo é de um casulo: aparentemente parado, internamente, acontece uma lenta transformação.

Recentemente ouvi de um super atleta, corredor, que sofre de depressão, sobre justamente esse sentimento de mais autocompreensão. Em estado de letargia e com um sentimento de necessidade de sair de casa pra correr, ele pensou: "o que preciso fazer primeiro? Preciso pegar meias." E assim o fez. Colocou-as e disse pra si: "Isso, muito bem, dei o primeiro passo, agora qual o próximo? Colocar um short.... colocar uma camiseta.... colocar os sapatos....". E assim foi criando espaço interno pra que essas ações fossem executadas.

Recentemente voltei a ter sintomas desse estágio de inércia. Lembrar desse passo a passo me ajudou. E uma vez com um pé a frente, depois outro a frente, eu estava caminhando, vendo uma paisagem diferente passar em câmera lenta. Observei árvores exuberantes, pisei em sementes que estalavam com as passadas, vi pequenas folhas que caíam, e percebi que a estação estava mudando: o inverno se despedia pra dar lugar à primavera. E assim estava mais presente no agora. No momento.

domingo, 9 de agosto de 2015

Depressão e riqueza

(Arte - Eduardo Marinho)

Amo aventuras - pela natureza, melhor ainda! Aventurar em trilhas desconhecidas, viajar por esse mundo mágico, sentir diferentes culturas e sonoridades, saborear novos pratos, cores e paisagens, conhecer pessoas em esquinas inesperadas... e eis que, em uma esquina da vida, esbarro com o que hoje chamo de "aventura da depressão". Digo hoje porque, antes, chamei-a de "fundo do poço", muito longe de qualquer conotação positiva. A vida era cinza, sem sabor, sem magia, sem vibração, sem energia... um constante sem mais cortante. Doloroso.

Sempre quis escrever sobre aventuras, viagens, esportes. Cheguei a esboçar um blog sobre aventuras pela América Latina que chamei de "Buenas ondas". (boas energias, boas vibes).  Era sobre as aventuras que eu amava! Agora me dou conta que atravessei uma ponte. Do outro lado, escrevo sobre depressão. Não era bem o que planejava, aliás, nem passava na minha cabeça falar sobre fundo do poço. Nessa caminhada - com sensação de imobilidade - muito me ajudou ler e ouvir relatos de pessoas que passaram por esse processo. Sentia que elas entendiam o que se passava comigo.

Foi uma passagem de lágrimas angustiantes. Por isso é difícil falar de um momento de fragilidade tão pessoal. Mas vejo que a depressão é um sentimento muito universal, e ainda um tabu. Embora não consigamos enxergar no momento de tristeza algum movimento, a depressão pode ser uma gestação de um novo caminhar. Uma nova forma de ver o mundo. Engraçado, nesse período de depressão profunda, tropecei em sincronismos, e caí em meio a leituras e pessoas com as quais me identifiquei muito e que me ajudaram a levantar. Não só pessoas que passaram por depressão.

Também aquelas com abertura para espiritualidade, um novo estilo de vida, com mais compaixão, amor por todos seres vivos, imbuídas da crença de que somos "um" -  cada um com partículas divinas e singularidades criativas, em busca de expansão da consciência. Foi como se o Universo estivesse conspirando a um despertar, que aprendi ser infinito. Sabe, chamados do Universo pra que simplesmente escutasse meu coração (e não as historinhas da mente). E eu que sempre achei isso tão abstrato... hoje consigo senti-lo como essencial. Bom, e assim foi... e assim está sendo.
(As pessoas mais ricas do mundo são aqueles que ousam seguir seus corações)